Após discursos de Bolsonaro, deputados divergem sobre os limites da democracia
Os discursos do presidente Jair Bolsonaro em Brasília e em São Paulo ontem, durante atos convocados por ele para o Dia da Independência, despertaram opiniões divergentes de deputados federais em relação aos limites da democracia.
Diante de milhares de apoiadores, que seguravam cartazes pedindo a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), intervenção militar e o fim do comunismo, Bolsonaro voltou a defender o sistema de voto impresso, que já foi rejeitado pela Câmara, e subiu o tom do discurso ao fazer ameaças ao STF e a membros da Corte, em especial ao ministro Alexandre de Moraes. O presidente disse que não vai mais cumprir decisões de Moraes, que é relator do inquérito que apura a divulgação de informações falsas.
“Os ataques e ameaças de Bolsonaro contra a democracia passaram de todos os limites, e temos o dever de afastá-lo do cargo”, disse por meio das redes sociais o líder da Minoria na Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ). Ele destacou que Bolsonaro “agrediu um ministro do STF, atacou o Poder Judiciário, desafiou o Poder Legislativo, colocou sob suspeita o sistema eleitoral e ameaçou atropelar a vontade soberana do povo ao dizer que só sai morto ou preso do poder”. Molon disse ainda estar dialogando com partidos de diferentes campos políticos para avançar no processo de impeachment do presidente.
Já a presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, deputada Bia Kicis (PSL-DF), disse por meio das redes sociais que, mesmo pedindo o fechamento do STF e a destituição de ministros da Corte, as manifestações pró-governo de 7 de setembro não podem ser tachadas de antidemocráticas. “Não existe manifestação antidemocrática sem violência. O direito à manifestação pacífica é uma garantia fundamental, cláusula pétrea da Constituição. Em uma democracia pode-se pedir até liberação das drogas e fazer marcha satanista que o STF garante”, disse a deputada.
Impeachment
Após as manifestações, o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), disse em entrevista à imprensa que as falas de Bolsonaro nos atos de 7 de Setembro devem levar mais partidos a apoiar o impeachment. Até o momento, PSDB, Solidariedade e PDT já admitiram convocar reuniões internas para debater o assunto.
O líder do PT, deputado Bohn Gass (PT-RS), também usou as redes sociais para dizer que o partido reunirá as bancadas da Câmara e do Senado para ampliar conversas com partidos de centro sobre o impeachment do presidente da República. “Os atos bolsonaristas de hoje [7 de setembro] não deixam nenhuma dúvida: o presidente é conivente com atos antidemocráticos. E isso é crime. Simples assim”, publicou.
Integrante da base do governo na Câmara, o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ) publicou nota nas redes sociais dizendo que é preciso combater “as narrativas do STF, da grande mídia e da oposição”. Segundo ele, “as manifestações de 7 de setembro foram pela liberdade de expressão e contra medidas inconstitucionais tomadas por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)”.
Para o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), “falar que os atos pela liberdade foram antidemocráticos é dizer que democracia não precisa de povo”. “Sem dinheiro, sem partido político, sem grande imprensa, sem universidade, sem sindicato, mas sempre ao lado do povo. E ainda há quem diga que isto é um ato antidemocrático”, publicou o deputado no Twitter.
Segundo Luiza Erundina (Psol-SP), “as reais necessidades do povo brasileiro são: vacina no braço, comida no prato e o impeachment do Bolsonaro. O Brasil da fome, do desemprego, da inflação e da crise hídrica tem pressa”.
Reportagem – Murilo Souza. Edição – Rachel Librelon. Fonte: Agência Câmara de Notícias.