Consultor da Opas vê pouco avanço em redes regionais de saúde
© Jorge Antonio Pex / Prefeitura do Rio
Rehem critica vinculação a acordos políticos e pede mais financiamento
Por Letycia Bond – Repórter da Agência Brasil – São Paulo
O consultor Renilson Rehem, da Organização Pan-americana da Saúde (Opas), afirmou, nesta segunda-feira (30), que, embora, nos anos 2000, o debate sobre a estruturação de redes regionais de saúde tenha sido retomado com mais intensidade, o que se vê na prática é pouco avanço. A avaliação foi compartilhada em uma mesa do semináro internacional 35 anos do SUS – SP, promovido pela Opas, Instituto Butantan e governo de São Paulo, entre outras entidades.
Como principal obstáculo no contexto abordado, Rehem destacou que a implementação de políticas públicas fica fortemente condicionada a acordos políticos. Além disso, ele disse que é preciso haver financiamento disponível.
“Nosso sistema, do ponto de vista de governança, é muito diferente do italiano. No nosso caso, a regionalização, entendida como construção de redes regionais, depende de acordo político, o que torna esse processo muito mais complexo”, afirmou.
Para Rehem, uma das formas de facilitar o processo é que o estado demonstre disposição para provocar uma abertura de diálogo com os municípios. “Outro passo que a gente deu foi trazer para o processo os próprios prestadores, o que, no caso de São Paulo, abrange prestadores de serviços públicos e filantrópicos”, disse o consultor da Opas, mencionando o que ocorreu no âmbito da unidade federativa.
Na Itália
Um dos participantes do seminário, no período da manhã, foi o conselheiro de saúde Sergio Venturini, da região Emília Romagna, na Itália. Segundo Venturini, de modo geral, os serviços na área da saúde são gratuitos, mas o governo cobra por alguns, quando o usuário tem mais condições financeiras, tomando como base uma tabela de valores que variam conforme a renda.
Em sua fala, Venturini enumerou fatores que considera impedimentos à universalização dos serviços de saúde, entre os quais estão as listas de espera para atendimento, a crise das profissões de saúde e a migração de profissionais, que, no caso da Itália, segundo ele, têm sido atraídos para locais como Emirados Árabes Unidos, por causa das propostas de elevados salários.
O conselheiro italiano citou ainda as interferências dos seres humanos no meio ambiente e a crise climática que o mundo vive atualmente, cenário que envolve aquecimento global, a primazia da agricultura, os índices crescentes de desmatamento, a escassez de água e a poluição do ar, conjunto de elementos que aumenta a incidência de doenças não transmissíveis.
“Nós não falamos sobre isso, falamos quando tem alguma crise de temperatura, quando não chove, mas, na minha opinião, deveriam ter mais interesse por isso. No meu país, pelo menos”, argumentou. “Estamos falando de saúde planetária, uma política da saúde para todos.”
Edição: Nádia Franco