Detentos e artesãs aprendem a fazer amigurumi em Naviraí

A FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), por meio de sua Gerência de Desenvolvimento de Atividades Artesanais, ofereceu oficinas de Amigurumi para os internos do Presídio de Segurança Máxima de Naviraí, no período da manhã, e para artesãs pela Fundação Municipal de Cultura, no período da tarde, durante a semana de 18 a 22 de setembro de 2023.

Rejane Benetti Gomes, gestora de Atividades Culturais, da gerência de Artesanato da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, explica que a FCMS leva essas oficinas “para além de despertar a criatividade das pessoas e o talento para as artes, mas para o desenvolvimento econômico dos municípios no viés da geração de renda”.

Valdirene de Góis Domingos, chefe da Educação no Presídio de Segurança Máxima de Naviraí, disse que a oficina teria para os custodiados o objetivo maior de ensinar um ofício. “Muitos estão fora do mercado de trabalho há bastante tempo e quando saírem poderão ter um ofício. Eles teriam direito a uma carteirinha do artesão. Inclusive, as peças que eles estão produzindo nós vamos levar para vender numa feira em Campo Grande em novembro”.

O custodiado R.J.B.L., 25 anos, já fazia artesanato, mas teve a oportunidade de se especializar no curso. “Eu encapava boné, chapéu para criança, chaveirinho, peças mais simples, agora tenho a expectativa de ter experiência para vende lá fora, no comércio, quando eu sair daqui. Além de ser uma terapia, acalma a gente, eu gosto de fazer, estou gostando muito do curso”.

C.F.S., 42 anos, está há nove anos como interno e disse que aprendeu crochê na cadeia, mas se aperfeiçoou no curso. “Para mim, como já faz tempo que estou aqui, quase nove anos, eu aprendi muito a fazer crochê na cadeia, mas aqui com a professora é a perfeição, para a gente é uma terapia, uma coisa muito boa, esses movimentos que a gente precisa para exercitar o cérebro. Eu penso no futuro, para a gente exercer lá fora, a gente pode até ter uma produção pra gente, é muito bom, ajuda na remição da pena, mas eu foco mais no aprendizado, sempre aprender uma coisa diferente”.

W.F.S.A., 30 anos, disse que o curso é um aprendizado maior. “Faço crochê há oito anos, aprendi dentro da prisão, para aperfeiçoar mais tudo o que a gente aprende de coisas boas, é para o futuro da gente. Eu já faço para vender, minha irmã tem uma página no Facebook que ela vende para mim. Bichinho eu aprendi a fazer agora, antes eu só fazia tapete. Com esse dinheiro eu pago advogado, ajudo minha família”.

Para Jonas dos Santos Ferreira, diretor do Presídio de Segurança Máxima de Naviraí, o curso é de extrema importância. “Faz parte do processo de ressocialização dos presos para eles terem condições de convívio em sociedade. O curso facilita para que eles possam se sustentar lá fora, quando saírem. Essa parceria com a Fundação de Cultura para nós é de suma importância. Pelo fato de nossa unidade ser distante da Capital, tivemos algumas dificuldades em ter os cursos com outras instituições mas, felizmente, com a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul deu certo. Para fazer o curso os custodiados passam por uma classificação que envolve segurança, disciplina e perfil, só os que têm condições de participar dos projetos é que fazem os cursos. Eles são bem dedicados. É isso que nos movimenta aqui. São muito proativos, grande parte deles já produz artesanato. Isso vai agregar para eles futuramente na geração de renda. Vamos adquirir material para que eles possam refinar essa técnica e vamos buscar parcerias para efetuar vendas desses materiais”.

No período da tarde foi realizado o curso de Amigurumi na Fundação de Cultura de Naviraí para as artesãs. Para Virgínia Moreira de Melo, coordenadora de Artesanato da Fundação de Cultura de Naviraí, a parceria com a FCMS é fundamental. “Sozinhos não avançamos. Essa parceria está sendo muito bacana mesmo. A atuação das alunas no curso foi maravilhosa. Achei que elas avançaram bastante, foi um aprendizado excelente. O nosso carro-chefe do artesanato aqui em Naviraí é o bagaço da cana, que é um artesanato que desenvolvemos na Fundação. Já demos cursos também, mas por enquanto estamos trabalhando com poucas pessoas. A oficina com Amigurumi veio para diversificar, mas tem mais coisas também, elas trabalham com crochê, com pintura, com bonecas, corte e costura”.

Uma das alunas, Edineia da Silva Alcântara, disse que nunca tinha feito crochê para venda. “O meu sustento é com a pintura. O que me motivou a fazer o curso é aprender novas coisas. Gostei muito de fazer. Pretendo continuar a fazer amigurumi, tanto é que já tenho até encomenda”.

Outra aluna do curso, Ana Paula Martins dos Santos, trabalha com artesanato e para ela também é uma forma de terapia. “Faço diárias e no meu tempo livre pego encomenda para fazer de tapetes de crochê, trilha de mesa, jogo de banheiro, capinhas para liquidificador, batedeiras. O que me motivou a vir aqui fazer o curso foi a vontade de aprender. Uma vez, eu tinha tentado fazer em casa, vendo no YouTube, mas não consegui. Aí fiquei sabendo do curso e vim. Imaginei que ia ser bem mais difícil, mas não era e gostei bastante de aprender a fazer. Já tenho encomenda, mas quero aprender mais um pouquinho, me aprimorar mais, aí quero fazer para vender”.

A ministrante do curso tanto no presídio quanto na Fundação de Cultura de Naviraí, Alexandra Ferreira Sampaio, disse que se surpreendeu com a dedicação dos alunos. “Principalmente lá no presídio. Apesar de eu já ter uma ideia de que os presos sabem fazer crochê, mas eles tiveram muita facilidade, uma criatividade incrível que eles têm. Foi assim, às vezes as pessoas pensam ‘ah pode ser perigoso’, não, foi super tranquilo, eles são muito educados, pessoal da Agepen também, os agentes, muito dedicados. Aí à tarde eu vinha para a Fundação de Cultura, as meninas também são mais iniciantes, mas esforçadas em aprender e ver as dicas, em fazer. Atualmente, vivo do artesanato. De formação acadêmica sou médica veterinária, aí por conta de ter casado, ter tido filhos, parei de atuar como médica veterinária e faço crochê desde os dez anos de idade, são 42 anos fazendo crochê, e no amigurumi desde 2017. Em 2013 eu fui para o mundo digital, comecei a criar loja pela internet, e de lá para cá participei de feiras, vendo na Casa do Artesão e comecei a dar aulas online. Artesanato para mim é criatividade, é paz, é tudo de bom, uma fonte de renda, é maravilhoso”.

O município que tiver interesse em ter este serviço de oficinas de artesanato, basta entrar em contato com a Gerência de Desenvolvimento de Atividades Artesanais da Fundação de Cultura pelos telefones (67) 3316-9107 / 3316-9152 ou pelo e-mail artesanato.fcms@gmail.com.

Karina Lima, FCMS

Fotos: Jonas dos Santos Ferreira

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